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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

"Como se lê a bíblia"

Hoje pergunta é como se lê a bíblia
“quando falamos em bíblia na tens a Palavra de Deus nas mãos, a bíblia é uma mediação...
A Palavra de Deus é uma pessoa Jesus de Nazaré
Aprender a ler a bíblia segue as mesmas regras de aprender uma língua estrangeira, não como na escola, mas lá onde se fala...
Aprender a ler a bíblia é ir lá…
Entra e pouco a pouco vais apanhando algumas ideias...
Aos poucos vais convivendo vais entendendo...
(Padre Rui Santiago)- Centro de Espiritualidade Redentorista

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Recado de JESUS aos Corações amedrontados


"Se tu soubesses do que és capaz, nem imaginas as cores com que se pintariam os teus dias! Se percebesses de uma vez por todas o teu verdadeiro tamanho, assim como eu próprio te vejo, e o lugar que ocupas no Coração do meu Pai, aprenderias de novo a dançar e a cantar como nos tempos de criança. Mas não dançarias mais como criança… Dançarias como fazem os Sábios de todos os tempos, cantarias como eles, sentirias o teu íntimo em Festa num sereno baile de Alegria e Paz...

Se tu soubesses do que és capaz, deixarias de fechar-te em ti próprio, e eu daria largas ao teu Coração, far-te-ia levantar voo acima dos teus medos, das tuas tristezas e das tuas desistências…

Deixa-me mostrar-te do que és capaz…

Todos os que dão crédito às minhas palavras, lentamente vão percebendo que não lhes minto! Dentro deles o Espírito Santo começa a fazer maravilhas, e eles sentem… Pouco a pouco, vão até aprendendo a colaborar com Ele, vão-lhe aprendendo os ritmos e percebendo os sinais… E, até hoje, nunca nenhum se sentiu defraudado em relação àquilo que lhe prometi! Bem pelo contrário…

Deixa-me mostrar-te do que és capaz…

Sou capaz de ensinar-te como se olha verdadeiramente para a Vida, para a História, para as Pessoas, e para os Desafios que tudo isto traz consigo! Sou capaz de libertar-te das forças autodestrutivas que às vezes ainda te minam o Coração: o ressentimento, o medo, a frustração, a impaciência, a desistência, a vingança, o desânimo…

Se tu soubesses do que és capaz adorarias voltar a ver-te ao espelho, e perceberias que tinhas renascido. Estas coisas escrevem-se-nos no rosto e nos olhos…

Lembras-te da quantidade enorme de desafios complicados que já venceste? São tantos, não são?!

Lembras-te de quantas vezes já pensaste “Desta não saio! Isto é demais! Nunca vou ultrapassar isto!”? Lembras-te?

Eu lembro-me bem, porque estive sempre contigo! Já vencemos juntos tantas coisas… E tudo isto, em vez de te fazer forte, muitas vezes só tem servido para complicares a Vida ainda mais por causa do passado e te assustares diante do rosto feio de alguns dias.

Por isso é que hoje tinha que falar-te assim, e andei às voltas a tentar arranjar uma maneira de o fazer! Porque quero muito que aprendas a olhar para ti como eu próprio te vejo!

Se tu soubesses do que és capaz, nem imaginas como os teus pés se tornariam ligeiros, as tuas pernas fortes, os teus braços vigorosos, o teu peito invencível, a tua cabeça inquebrável, o teu rosto terno, os teus olhos atentos…

Deixa-me mostrar-te do que és capaz!

Não perceberás tudo hoje, nem amanhã ainda… Mas começa hoje! Deixa-me mostrar-te do que és capaz…

Dentro de ti, quero ensinar-te a ver cada coisa com o seu real tamanho e valor, porque às vezes vês grandes demais problemas pequenos, e não prestas atenção a grandes maravilhas… Como tu!

Quando aprenderás a olhar para ti como se contempla uma maravilha? Quando aprenderás a ver-te como eu te vejo?

Não te olho à procura de perfeições, não existe em mim qualquer moralismo, não te exijo que sejas diferente do que és para gostar de ti e para me encantar ao olhar-te. Basta-me que sejas assim como és. Não compliques...

Se tu soubesses do que és capaz, tirarias finalmente muitos projectos da gaveta do teu Coração e darias passos que antes julgavas maiores do que as pernas. Porque se tu soubesses do que és capaz, as tuas pernas cresceriam…"


Padre Rui Santiago- Derrotar Montanhas

sábado, 12 de janeiro de 2019

Portugal: Missionários Redentoristas têm novo provincial

Portugal: Missionários Redentoristas têm novo provincial:

Lisboa, 11 jan 2019 (Ecclesia) – O 17.º Capítulo Provincial dos Missionários Redentoristas, que decorreu no Seminário de Cristo-Rei, em Vila Nova de Gaia, elegeu como responsável nacional o padre Rui Santiago, informou hoje a congregação. Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, os Redentoristas assinalam que os trabalhos decorrer sob o lema “Renovar o Coração, o Ardor, os Métodos e as Estruturas”.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

"A cena evangélica deste dia é tocante..."

Hoje celebra-se a ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA e na Antifona de Entrada da Eucaristia de hoje reza-se assim:
"Grandes coisas se dizem de Vós, ó Virgem Santa Maria,
que hoje fostes exaltada sobre os coros dos Anjos
e triunfais com Cristo para sempre."

EVANGELHO Lc 11, 27-28
«Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre!»

"A cena evangélica deste dia é tocante, um quadro belíssimo: duas mulheres d'esperanças! O diálogo bíblico entre duas mulheres d'esperanças, para ver se percebemos que foi para a Esperança que fomos chamados pela trombeta jubilar que abre o Novo Testamento. A Esperança da Gloriosa Liberdade dos filhos de Deus, a Liberdade que se funda na Justiça e na Paz sem vencedores nem vencidos.

Duas mulheres d'esperanças são o quadro-moldura do Hino da Revolução Messiânica, mais conhecido como Magnificat, para ver se percebemos que ESTA é a Esperança a que fomos chamados, porque é preciso que Deus Reine. Porque precisamos que Deus Reine. Porque precisamos, para nossa salvação, de sermos salvos dos nossos desmandos, arrogâncias, opressões e tiranias.

Duas mulheres d'esperanças... fascina-me, há muito, este quadro! E no dia em que tantas vezes dizemos a palavra "Assunção", percebamos que foi nesta Esperança que fomos ASSUMIDOS, foi nesta Narrativa d'esperanças que fomos Inscritos, é para o Mundo Novo cantado profeticamente no Magnificat que fomos ConVocados."

SHALOM
 (Padre Rui Santiago)
Derrotar Montanhas

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Este é o momento favorável!

Ontem no final da Missa pessoas em pequenos grupos conversavam ...
e escutei;
 "tantas vez já ouvi esta parábola da multiplicação e nunca tinha reparado que foi uma criança que partilhou o pouco que tinha...ora se ela levava farnel é mais que certo que muitos adultos também..." 

"pensaram certamente: não vou dar aquilo que me faz falta, que se desenrasquem..." (risos)

" como tu fazes, que nunca partilhas nada"
" e tu, és como Filipe, só te preocupas com quanto vai custar..."

Depois lembrei-me:
"da  catequese sobre o Baptismo na fala com Nicodemos, depois da referência constante ao Espírito Santo,  (e neste domingo) a catequese sobre a Eucaristia. Estamos no ambiente da iniciação cristã."

e que o Evangelho de S. João vai acompanhar-nos nestes próximos Domingos,
e podes queres deixar essa preguiça de férias e disciplinar um pouco os teus momentos de interiorização, de vida espiritual!

Aqui Tens os 4 Evangelhos
Experimenta fazer download e levares no teu telemóvel podes ouvir junto ao mar, olhando as estrelas, enquanto caminhas, onde e quando quiseres

Deixo-te aqui o 1 Evangelho para ouvires (mastigares e saboreares como diz a minha amiga Rosita)


CEREdentoristas

segunda-feira, 2 de julho de 2018

"E vós quem dizeis que Eu Sou"

"A sua grande paixão era fazer a vontade de Deus, e libertar as pessoas das amarras do sofrimento e do pecado. Quando fazia o bem gostava de sublinhar que o seu modo de agir correspondia à vontade daquele que o enviou (Jo 5, 30).

O evangelho de São João diz que o Espírito Santo habitava nele com a plenitude dos seus dons: “Aquele que Deus enviou transmite a Palavra de Deus, pois Deus não lhe deu o Espírito por medida” (Jo 3, 34). Na verdade, a revelação de Deus atingiu a plenitude com a sua mensagem.

Por vezes, as pessoas chamavam-lhe o profeta de Nazaré. A sua Palavra tinha uma força tal que ninguém ficava indiferente àquilo que anunciava. Tomava sempre a defesa dos que não eram capazes de se defender. Como acontece com os profetas, nunca teve a pretensão de ser rico ou poderoso. Defendia a partilha dos bens como caminho para chegar à abundância: “Se as pessoas tiverem a coragem de partilhar, sugeria ele com as suas palavras e atitudes, os bens da terra chegarão para todos e ainda vai sobrar."

Era manso e humilde de coração e amava sem fingimento. Preferia conviver e acompanhar com os pobres e a gente simples. Amava tanto os justos como os pecadores. Aos justos tentava fortalecê-los, convidando-os a amar ao jeito do Pai do Céu: “Porque se amais apenas os que vos amam que recompensa haveis de ter? Não fazem isso, também, os cobradores de impostos? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem os pagãos a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai do Céu” (Mt 5, 46-48).

Tinha a plenitude do Espírito. Por isso, nunca foi cobarde, e levou a sua missão até ao fim, apesar de se aperceber do perigo em que estava a incorrer.

Jamais defendeu a morte dos pecadores, apesar de sonhar com a destruição do pecado, essa dinâmica negativa que impede a humanização das pessoas. Foi esta a razão pela qual inaugurou o Baptismo no Espírito, pois ele sabia que só o Espírito Santo é capaz de renovar o coração das pessoas. Costumava dizer que os seres humanos têm de nascer de novo pelo Espírito Santo, a fim de atingirem a densidade da vida nova (Jo 3,6).

Denunciava os que oprimiam em nome da política, do dinheiro ou da religião. Passou a vida a fazer o bem. Eis a razão pela qual nunca deixou ninguém mais pobre ou com falta de sentidos para viver.

As suas atitudes não eram neutras nem ambíguas. O seu modo de agir punha em causa as forças que oprimiam e machucavam as pessoas. Apesar de passar a vida a fazer bem a toda a gente, eram muitos os que desejavam a sua morte.

Quiseram destruir a sua tenda. Mas Deus tomou partido por ele. Exaltou-o e não esteve de acordo que a sua vida fosse roubada aos pobres e oprimidos da terra. Ressuscitado, o Profeta de Nazaré continua a sua missão: o Reinado de Deus e o Baptismo no Espírito. Também não abdicou das amizades que tinha. O Amor do Pai continua a ser a sua força e o Espírito de Deus permanece a sua suprema vitalidade.

Porque está connosco, a existência enche-se de sentido e esperança.
ALELUIA!"

NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA
Em Comunhão Convosco,
Calmeiro Matias

Derrotar Montanhas


domingo, 12 de março de 2017

"Sermão da Transfiguração para o II Domingo da quarentena"

(...)

Neste Domingo, a Boa Notícia é a Transfiguração de Jesus, suprema linguagem pascal. Ontem, então, fiz quase um Sermão sobre isso. Fica para quem quiser ouvir.
Derrotar Montanhas

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

"Unidos a Jesus para louvar a Deus"

"Jesus, Nosso Irmão e Salvador
inspirando-nos nos teus ensinamentos queremos juntar a nossa voz à tua
para louvar a Deus pela multidão das suas obras:

contigo queremos louvá-lo porque nos chamou à vida!
Louvá-lo porque nos deu a Natureza como fonte de beleza e sabedoria.
Louvá-lo pelas altas montanhas que parecem dedos gigantes a apontar o céu e a multidão das estrelas.
Louvá-lo pelos mares e os lagos que reflectem a luz do sol e refrescam a nossa terra.
Louvá-lo pelos animais que estimulam a ternura dos seres humanos.

Louvá-lo pelo mistério da Encarnação,
esse abraço de Deus à Humanidade pelo qual passamos a fazer parte da Família de Deus.

Louvá-lo pela força da vida a circular nas plantas, nos animais e os nos seres humanos.
Louvá-lo pelo perfume das flores e o sabor delicioso dos frutos.
Louvá-lo pela fidelidade do Sol
que todas as manhãs nos recorda que estamos a caminhar para O Dia que não terá fim.

Louvá-lo pela transparência das crianças que nos convidam a sermos verdadeiros e sinceros.
Louvá-lo pelos jovens e adultos
que procuram construir a paz sobre os pilares sólidos da justiça e dos direitos humanos.
Louvá-lo pelo dom da sua Palavra
que nos faz compreender o sentido profundo da vida e a meta para a qual estamos a caminhar.

Louvar o Pai que nos acolhe no seu regaço como filhos.
Louvar o Filho Eterno de Deus que encarnou para se tornar nosso irmão.
Louvar o Espírito Santo que é a ternura maternal de Deus
a conduzir-nos para a comunhão da Família de Deus.

Louvar a Santíssima Trindade que nos criou
com essa capacidade admirável de amar e comungar na Festa do Reino de Deus."


NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA
Em Comunhão Convosco,
Calmeiro Matias
IN: Derrotar Montanhas

domingo, 5 de fevereiro de 2017

“Tudo o que ele faz é bonito!” (Mc 7, 37)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
«Vós sois o sal da terra.
Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se?
Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.

Vós sois a luz do mundo.
Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte;
nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire,
mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa.
Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens,
para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».

Mt 5, 13-16
(5º Domingo do Tempo Comum - A)




http://derrotarmontanhas.blogspot.pt/#!/2017/02/plano-b-o-que-e-bom-e-pra-se-ver.html
Derrotar Montanhas
"Não vale a pena andar sempre atrás da última novidade espiritual ou virar meio mundo para achar a última originalidade teológica. Há coisas que são o que são, e ficam bonitas assim, na grandeza da sua simplicidade.
Depois de saudar o mundo com as Felicitações de Deus, Jesus pousa os olhos em quem tem mesmo diante e começa a falar. É o intenso Sermão da Montanha, uma Palavra de Esperança que, vinda de Jesus, é vista e ouvida em HD - high definition - ou em “Alta Fidelidade”, como se anuncia pateticamente em relação a electrodomésticos!

Quando Jesus começa a falar, acordamos logo para as imagens. É por aí que seguirá a conversa de Jesus, o profeta contador.
Sal e Luz.

Podíamos dar sete voltas a isto. Porque o sal não é de comer e a luz não é de ver: o sal é o que dá gosto aos outros alimentos e a luz é o que faz ver as outras coisas. Ninguém come sal e ninguém vê a luz. O sal, salga; a luz, ilumina. Assim Jesus nos diz que a vida saudada por ele e felicitada por Deus, é aquela que não vive para si mesma, mas para os outros.

Mas, verdade-verdadinha, a gente percebe logo que está em causa o que dizemos em relação a outras coisas: “Ai, fulano de tal é uma coisinha tão sem sal…” Entrou na nossa linguagem, que as pessoas mais sem graça (lá está…) são chamadas “coisinhas sem sal”. Das pessoas e dos encontros que nos deixaram desconsolados, dizemos que foram “insossos”. Quando alguém ou alguma situação precisa de um bocadinho mais de qualquer coisa para lhe dar uma certa animação, dizemos que lhe falta uma “pitadinha de”, ou “precisa ali de uma pitadinha de”.

Bem sabem os nuestros hermanos, que para gente graciosa, alegre e bonita, arranjaram a palavra “salero”.

As imagens de Jesus são claras, quando deixamos de andar com elas nas palminhas da primeira comunhão. Se as salvamos da redoma religiosa, elas começam a dizer tudo o que têm dentro. E estas, hoje, estão a abrir o coração para me contarem isto de Jesus: “Não sejas uma coisinha sem sal… Um discípulo xôxo, sem graça nem brilho, sem gosto nem gozo.”


Neste contexto, uma irmã de Comunidade usou há uns dias uma expressão que eu nunca tinha rezado antes: “o que é bom é p’ra se ver!” E é. É disso que Jesus fala. Que a vossa maneira de proceder seja uma homenagem à bondade do vosso Pai do Céu. Andar pelo mundo como filhos do Pai de Jesus - e Pai Nosso! - é viver com outro gosto e outra luz. Daqui a pouco, Jesus vai estar a falar de segredo, e da importância de não fazermos nada - sobretudo as coisas boas - com o objectivo de sermos elogiados pelos outros. Mas isso é só daqui a pouco. Agora, ainda não. Agora, Jesus está a abrir o livro desta profecia nova, a Constituição do Reino que Deus. Facto espantoso: esta Constituição tem uma Dedicatória. O próprio Deus dedicou, com a caligrafia inegável da sua famosa Mão Direita, esta Constituição do Reino aos últimos da terra. Como sabe qualquer pessoa que já tenha escrito coisas, a Dedicatória é normalmente a última página a ser escrita. Mas Deus, nesse jeito contrário chamado Esperança, escreve a Dedicatória logo em primeiro, para sabermos de antemão onde esta Promessa vai dar.

Sem medos nem falsas humildades: Jesus diz-nos para sermos “a pitada” que ficaria a faltar e a “chama acesa” dos lugares que habitamos. Jesus diz-nos que o que é bom é p’ra se ver. Claro! E a gente nem por um segundo se pode confundir com isto, porque sabemos que Jesus está a dizer para vivermos como filhos que saem ao Pai. É claro que o bom não sou eu. Uma vez, quando alguém chamou a Jesus “bom mestre”, ele mesmo apressou-se a reagir: “Por que me estás a chamar “bom”? Só Deus é bom…” (Mc 10, 18)

Mas, “o meu Pai trabalha, e eu também trabalho!” (Jo 5, 17) E quando a gente faz como Deus faz, quando a gente vive como Deus manda, acontecem reacções como aquelas que se diziam do que Jesus fazia: “Tudo o que ele faz é bonito!” (Mc 7, 37)"
 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

"A TUA FAMA É ODOR QUE SE ESPALHA" (Ct 1, 3)

EM PLANO B
Domingo da Epifania
(Mt 2, 1-12)

Isto de ir perguntar a um rei onde está "O" rei que devia nascer, é provocação grande demais! Tudo aqui está em movimento nesta página cheia de andanças. Há duas cartografias e duas fotografias. Duas cartografias e duas fotografias de reinos diferentes...

Estou a escrever estas coisas na Guine-Bissau, onde o céu é maior que noutros lugares. Neste momento da noite não há luz elétrica nem nenhum barulho para além dos da terra. Estive lá fora um pouco a olhar para as estrelas e parece que quando a gente olha para elas, param de respirar, suspendem o fôlego para não fazerem ruído sequer, ficando apenas aquele tremelicar de quem está a segurar o ar por muito tempo. São caladitas as estrelas.

A imagem dos magos a seguirem o fio prateado de uma estrela é de uma leveza fantástica, uma metáfora cheia de poesia. Tudo é sossegado neste seguimento. A estrela desenha um risco na cartografia desta estória evangélica todo da cor da paz e do silêncio.

Mas ponho-me a olhar para a outra estrela que os magos encontram, a "Star" de Jerusalém, o rei faz-de-conta Herodes. Fixo-me nos seus pés como se os passos que dá deixassem rasto riscado no chão. E espanto-me com a evidência... É alguém que gira-gira, roda-roda, vai, chama, manda vir, a estes e aos outros... O risco dos seus passos segue à risca a sua própria circunferência! É alguém que deixa no chão um emaranhado de traços todos à volta de si próprio.

São duas cartografias de dois reinos muito diferentes! Um é o traço riscado no céu em forma de direcção e silêncio, como um segredo transmitido só num beijo. O outro é o novelo riscado no chão em forma de circuito fechado e curtinho, perímetro medíocre de influência e perturbação.

É sempre esta a luta da construção do Mundo Novo chamado Reino de Deus: o face-a-face com os anti-reinos que são os minúsculos e violentos impérios que vamos criando em função dos nossos egoísmos.

Estas são as duas cartografias, a do Reino de Deus todo caminho e direcção, e a do Anti-Reino todo circunfechado e desnorte.

Mas há também duas fotografias de apresentação destes dois reinos. E só para fazer memória dos rolos fotográficos, vamos revelá-las assim:

Fotografia 1. Era uma vez uns magos que encontraram um rei que ficou assustado, espantado e, atrás dele, conseguiu perturbar e alvoroçar a cidade inteira!

Fotografia 2. Era uma vez uns magos que encontraram um rei que - SHIIIUUU!!! - estava a dormir sossegado no colo da mãe.

O mal é ruidoso e os seus reinados são espalhafatosos! Mas a maneira de Deus é mansa, o bem não faz ruído, não barulha. Um rei em pânico a transtornar a sua cidade e um rei a dormir no sossego discreto do lugar onde começou agora mesmo a nascer.

Os magos perceberam estes sinais. Nós, nem sempre. Confundimo-nos com o barulho e enchemos os olhos com tamanhos! Surdos por falta de silêncio e aleijados dos olhos, vamos atrás de quem grita mais convincentemente ou de quem exibe maior influência para lhes entregarmos os tesouros da nossa vida.

Ouro, incenso e mirra... E, pelo cheiro, sou transportado para o livro grandioso do Cântico dos Cânticos: "antes que o dia desponte e as sombras desapareçam, quero ir ao monte onde há mirra e à colina onde há incenso", cantava o apaixonado à sua amada (Ct 4, 6)

E ela responde-lhe que se levantou para ir abrir a porta, "as minhas mãos gotejavam mirra, os meus dedos eram mirra escorrendo pelos trincos das fechaduras" (5, 5)

Já antes ela tinha dito que "o meu amado é para mim como esta bolsinha de mirra que trago entre os meus peitos" (1, 13)

Entretanto, neste cântico todo enamorado de alianças, um coro de jovens amigas da Noiva intervém para cantar esta pergunta: "Que é isto que sobe lá do deserto como colunas de fumo, com um cheiro tão intenso a mirra, a incenso e a todos os perfumes dos mercadores?" (3, 6)

Resposta? Era o rei, que chegava para as núpcias.

CHEIRA-ME que sem todo este mundo enamorado da escritura com os seus perfumes, não teremos chave de leitura correta para ler a entrega dos três presentes ao rei-menino que está ali anunciado enquanto dorme num lugar qualquer de Belém, a cidade de Salomão...

Depois de a Noiva abrir a cantiga com a deliciosa frase "Que ele me beije com os beijos da sua boca!" (1, 1), a primeira promessa do Noivo é "faremos para ti arrecadas de ouro" (1, 11). Por sua vez, a Noiva confessa que o seu amado é todo feito de ouro: "a sua cabeça é de ouro maciço... os seus braços são ceptros de ouro... os seus pés são ouro fino... e dos seus lábios, que são como lírios, goteja a mirra cujo perfume se espalha... a sua boca é só doçura, e todo ele é delicioso. Eis como é o meu amado; assim é aquele que eu amo." (5, 10-16)

Tudo é beleza e Enamoramento neste Cântico dos Cânticos que é uma cantiga de núpcias.

Conheci há umas semanas uma jovem guineense que foi baptizada na Vigília Pascal de 2014. Quis-me contar porque se converteu. Uma vez, há cerca de cinco anos, na casa de um familiar encontrou uma bíblia. Abriu por curiosidade e deu com um livro pequeno e poético chamado Cântico dos Cânticos. Leu de um fôlego e ficou sem fôlego. Ficou claro dentro dela esta certeza: um Deus que fala de amor assim, tem de ser o verdadeiro; uma religião que se permite acreditar num amor assim, pode dar sentido à vida.

No Catecumenado veio a descobrir que o grande Cântico dos Cânticos é o Evangelho, e que a vida de Jesus é toda ela um Poema Nupcial. Brilham os olhos desta mulher quando conversa destas coisas, porque foi na surpresa de um Deus que permite falar de amor assim que ela começou a descobrir o Caminho de Jesus.

Tudo é beleza e enamoramento, estamos talhados para isso! O brilho do ouro, o perfume do incenso e da mirra, naquela cultura tudo isso fala de sedução, atracção, erotismo, abraço, intimidade. Estamos no Terreiro dos Amores, na Tenda Nupcial, debaixo do Arco da Aliança. A Fé Cristã não é outra coisa que aderir a esta loucura de Deus em desposar-nos.

(6 janeiro 2015)

sábado, 31 de dezembro de 2016

Plano B: "Este é Tempo um Tempo Verbal"

Neste ultimo dia do ano 2016 partilho convosco mais uma "homilia" a que o Padre Rui Santiago chama Plano B
Vamos fixar os VERBOS e pô-los em ação.

"Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.

Lc 2, 16-21
(1 janeiro)

ESTE É UM TEMPO VERBAL

Estamos no tempo do Verbo. O Verbo de Deus, Dito e Feito, Jesus de Nazaré. O Verbo que se vem conjugar connosco em todos os tempos, pessoas e modos. Estamos no tempo do Verbo. Natal é um Tempo Verbal.
Deve ser por isso que, desta vez, diante do evangelho, não consigo mais do que render-me à força do Verbo que estás nestes verbos. E dizendo-os devagarinho, como quem mete sementes à boca, espero que cada um deles também se vá tornando verbo dito e feito. Em mim. Recitando-os devagar, como quem embala palavras, pode ser que cada um destes verbos também ganhe carne. Em mim.
Entre os dos pastores e os de Maria, nestes verbos está toda a gramática da fé de que um missionário precisa.


É assim:

Os pastores foram
correndo…
…e encontraram…
…viram-no…
…começaram a contar…
…o que lhes tinham anunciado…
…quem ouvia,
admirava-se…

…e regressaram…
…cantando louvores e acções de graças…
…por causa do que tinham visto e ouvido…
…como lhes tinham anunciado…

A Maria guardava os acontecimentos…
…dava-lhes voltas
no coração…

IN Derrotar Montanhas

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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

"15 de Agosto"

"A cena evangélica deste dia é tocante, um quadro belíssimo: duas mulheres d'esperanças! O diálogo bíblico entre duas mulheres d'esperanças, para ver se percebemos que foi para a Esperança que fomos chamados pela trombeta jubilar que abre o Novo Testamento. A Esperança da Gloriosa Liberdade dos filhos de Deus, a Liberdade que se funda na Justiça e na Paz sem vencedores nem vencidos.

Duas mulheres d'esperanças são o quadro-moldura do Hino da Revolução Messiânica, mais conhecido como Magnificat, para ver se percebemos que ESTA é a Esperança a que fomos chamados, porque é preciso que Deus Reine. Porque precisamos que Deus Reine. Porque precisamos, para nossa salvação, de sermos salvos dos nossos desmandos, arrogâncias, opressões e tiranias.

Duas mulheres d'esperanças... fascina-me, há muito, este quadro! E no dia em que tantas vezes dizemos a palavra "Assunção", percebamos que foi nesta Esperança que fomos ASSUMIDOS, foi nesta Narrativa d'esperanças que fomos Inscritos, é para o Mundo Novo cantado profeticamente no Magnificat que fomos ConVocados."

SHALOM
 (Padre Rui Santiago)

Derrotar Montanhas

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A arte de cultivar o amor

"Deus Santo,
Vós sois amor e chamais-nos a alimentar o amor, a fim de vos podermos conhecer melhor (1 Jo 4, 7-8).

No ser humano, o amor não é uma realidade espontânea, pois não nascemos capacitados para começar logo a amar. Na verdade precisamos de ser amados para ficarmos capacitados para amar. É o amor dos outros que nos capacita para Amar e comungar com Deus e os irmãos.

O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

Amar é eleger o outro como alvo do nosso bem-querer, aceitá-lo assim como é e agir de modo a facilitar a sua realização.

Senhor Jesus,
Tu deixaste-nos o amor como o teu único mandamento, dando-nos a garantia de que é pelo nosso jeito de amar que nós seremos reconhecidos como teus discípulos: “Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Todos saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34-35).

Ajuda-nos, Espírito Santo, a cultivar a arte de alimentar o amor, a qual implica uma série de atitudes livres e conscientes:

*Amar implica estar presente nas horas difíceis, pois o amor edifica na cooperação e tende sempre para a comunhão.

*Amar é ajudar o outro a gostar de si, valorizando as suas realizações e empenhamentos, mesmo quando estes não correspondam aos nossos interesses.

*Amar é ajudar o outro a superar a solidão e ajudá-lo a suportar os fardos com que a vida, por vezes, nos carrega.

*Amar é facilitar o amadurecimento do outro, dando-lhe oportunidades para que se realize com pessoa livre, consciente e responsável.

*Quem ama não substitui, mas ajuda sem se sobrepor. O amor ajuda a pessoa a compreender que é melhor dar do que receber.

*Amar é ajudar o outro a descobrir sentidos para viver de modo empenhado e feliz.

*Amar é ser capaz de ficar calado quando se está magoado, esperando a oportunidade certa para dialogar com serenidade.

*Amar é acreditar no outro e não pretender que a minha opinião é a única que vale.

*Amar é saber calar-se quando sentirmos que a nossa conversa está a cansar o outro.

*Amar implica reconhecer as qualidades do outro e não girar apenas em volta dos seus defeitos.

*Amar é ser capaz de partilhar não só o que tenho, mas também o que sei e, sobretudo o que sou.

*Amar é entender que a disponibilidade para escutar, acolher e aceitar as diferenças do outro vale mais do que dar muitos presentes.

*Ama mais e melhor quem dá o primeiro passo no sentido da reconciliação.

*Amar é estar atento e verificar se o outro está precisando de mim. Não basta pensar: “quando quiser que venha ter comigo”.

*Ama mais quem se antecipa, a fim de ser dom para o outro. Jesus levou o amor até à sua expressão máxima: “Dar a vida pelos amigos”.

*O nosso amor será tanto mais perfeito quanto mais nos aproximarmos desta meta.

*O amor modela o nosso coração para a comunhão e capacita-nos para sabermos edificar a nossa casa sobre a rocha firme.

*O amor é a veste indispensável para podermos participar no banquete do Reino de Deus.

*O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão.

*O amor acontece sempre como dinâmica que gera liberdade e criatividade.

*O amor modela e capacita o coração para o dom e a gratuidade.

*O amor tenta sempre aceitar os defeitos do outro, apesar disto exigir renúncia e sacrifício.

*Sublinha as qualidades do outro e congratula-se com os seus sucessos.

*O amor não está sempre a exigir disponibilidade da parte dos outros, mas procura estar disponível quando estes precisam de si.

*Quando dá uma opinião ou aconselha alguém, a pessoa que ama procura comunicar sempre o melhor da sua experiência e do seu saber.

*A pessoa que ama rejubila com os sucessos do outro como se de sucessos próprios se tratasse.

*A pessoa egoísta, pelo contrário, tende sempre a encarar o sucesso do outro como um mal para si.

*O jeito de se dar da pessoa que ama é discreto, ao ponto de o outro nem se aperceber do sacrifício que, está a ser feito em seu favor.

*A pessoa que ama não se afasta do outro por causa dos seus fracassos.

*O amor capacita a pessoa que ama para uma doação cada vez mais plena e gratuita.

*Pelo modo gratuito e atento de se dar, a pessoa que ama é sempre a primeira a ser recordada nos momentos de sofrimento e dificuldades.

*A pessoa que ama evita magoar, mas não deixa de dizer a verdade pelo simples facto de que o outro pode não gostar.

*São Paulo menciona algumas das principais qualidades do amor eis o que ele diz:

“O amor é paciente e prestável. O amor não é invejoso, nem é arrogante ou orgulhoso.

O amor não procura o seu próprio interesse e nada faz de inconveniente.
O amor não guarda ressentimento, sem se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.
O amor tudo desculpa. Acredita sempre. Tudo suporta e tudo espera.
O Amor jamais passará” (1 Cor 4-8).

Glória a Vós, Trindade Santa, pois sonhaste-nos para a festa do amor que é a calda da Vida Eterna.

Aleluia!"

"NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA
Em Comunhão Convosco,
Calmeiro Matias"
IN Derrotar Montanhas

segunda-feira, 13 de junho de 2016

"sobre Orlando, sobre Fobias e um texto do Evangelho"

"Ontem aconteceu Orlando de outra maneira. Ontem, não foi notícia o Disneyworld. Não quero abusar das palavras, mas não consigo seguir como se nada tivesse acontecido. Choca-me a brutidade daquela matança. Choca-me todo o tipo de estupidez, mas aquela que procura fundamentação religiosa ainda me escandaliza mais. Choca-me o extremismo islâmico e todos os outros tipos de extremismo religioso, coisa que os EUA conhecem tão bem e alimentam também tão ferozmente. A desumanidade é um enigma que não decifro inteiramente.

Depois da brutidade e da matança, vem a imbecilidade, em onda, como réplicas daquele primeiro impacto, vergonhosas réplicas de ódio e maldade. E isto, confesso, acho que ainda me fere mais. Porque explico melhor a brutidade de uma pessoa que faz aquilo do que as reacções de milhares de pessoas nas redes sociais que confirmam o terror e batem palmas. É como uma onda imbecil, igualmente desumana.

Para uns, o inimigo é o islão; para outros, o inimigo são os gays. Quando perceberemos que o inimigo, afinal, está dentro de nós, e é um monstro mesquinho e preconceituoso, que alimentamos com doses generosas de ignorância e medo?

Às vezes faz-nos falta saber donde vêm as palavras. Fobia vem do grego "fobos", que significa medo, pânico. Islamofobia, Homofobia, e qualquer outra fobia, é uma criação do medo. É uma cedência ao medo. E poucas coisas nos fazem ser mais terríveis e impiedosos do que o medo diante do desconhecido. É às escuras que desferimos os nossos golpes mais mortais. Quando estamos às cegas, brandimos as espadas e as lanças com um vigor tão desordenado que nos torna perigosamente mortais.

É de medo que falamos. Dos medos que nos habitam, das fobias que nos dominam e nos levam à impiedade. E, acima de tudo, dos monstros - também dentro de nós! - que estes medos alimentam e que acabam por fazer tanto mal.


E, como resposta de um crente em Deus, o Misericordioso, ao homem que fez a matança naquela discoteca, e a todos os que conseguem arranjar argumentos para aplaudir um pecado tão grave, partilho de novo uma reflexão que fiz para a homilia há umas semanas. Um apontamento sobre a homofobia, e o que Jesus disse sobre isso. Publiquei na página "Plano B" no facebook, mas volto a pôr aqui o texto, comentário ao texto evangélico em que um centurião romano manda pedir a Jesus que lhe cure um servo com quem ele vivia em intimidade (Lc 7, 1-10).
 

O homem era pagão. Não só pagão, mas romano. Não só romano, mas centurião. Está o cenário todo montado para que um Profeta lhe mande dar uma volta. Um chefe militar do império colonizador, e parece que tinha "um servo a quem estimava muito". Quer dizer, se vamos a traduzir mesmo o que está no original, a coisa em português fica assim: "que vivia na intimidade dele". A palavra grega que está traduzida por "estimava muito" é "entímos", origem do vocábulo "íntimo", em português.

Ou seja: mais esta!
 
Entendamo-nos, então. Segundo a cultura militar romana, era proibido um centurião ser casado. Ter mulher e filhos seria uma dificuldade para o cargo militar que ocupava. Entretanto, tinha-se tornado comum e bem aceite que os centuriões tivessem junto de si jovens rapazes, como seus servos, com quem partilhavam a intimidade. Não podemos avaliar estas coisas segundo critérios da nossa cultura actual, evidentemente. Este costume era bem aceite, estava encaixado na estrutura militar, e em nada se assemelhava a predação sexual ou pederastia. Tempos.

O que interessa aqui é percebermos quem é este centurião e o motivo pelo qual ele não quer que Jesus vá lá a casa. Se entre os romanos as relações homossexuais não levantavam nenhum problema moral, não era assim entre os judeus. A lei judaica era muito explícita na condenação à morte que mereciam todos os que fossem acusados de relações homossexuais. Era uma imoralidade gravíssima.

Se parecia que a descrição daquele homem, a olhos judaicos, não podia piorar, fomos apanhados de surpresa. Pagão. Colono. Chefe militar. E imoral.

Bem vindo ao admirável mundo de Jesus!


Alguma coisa teria de muito especial este homem, porque os próprios anciãos de Cafarnaum intercedem por ele. Ou era muito generoso e sensível, ou era um diplomata hábil. Construir sinagoga para os judeus podia ser as duas coisas: generosidade ou técnica de colonização. Todos os impérios usam prendas para amansar quem têm pela rédea. Percebes porque se chamam "prendas"?...

O que é certo é que intercedem por ele, e Jesus sabia quem era e do que se tratava. E não encontramos na sua boca uma palavra de condenação, nem uma recusa. É admirável contemplarmos, nestas passadas dos evangelhos, o que não está lá. O que Jesus não disse. O que Jesus não fez. O que lá não está diz-nos muito do que Jesus é e da maneira como se posiciona diante das pessoas.

Não só não o condena nem rejeita o seu recado, não só não o ignora nem vulgariza o seu sofrimento, como lhe dá um louvor. "Nunca vi tão grande fé, nem em Israel!" Jesus diz isto de um pagão, chefe militar dos colonizadores, que lhe mandou recado movido pelo amor que tinha àquele servo com quem vivia em intimidade. Nós que somos de vez em quando tão dados a homo e outras fobias, talvez precisássemos de conhecer os evangelhos um bocadinho melhor.


Já agora: o louvor da Fé. A mim toca-me profundamente o motivo pelo qual Jesus louva a Fé daquele estrangeiro. Porque ele, o estrangeiro, intuiu qualquer coisa fundamental, e Jesus gostou disso. A Fé é Obediência. É por isso que a Fé daquele centurião é grande e boa e louvável, porque ele entende a Fé como Obediência: um diz, o outro faz; um manda, o outro obedece.

É este carácter obediencial da Fé que nos falta tantas vezes! Perdemo-nos em devoções sem motivo nem porquê, deixamo-nos enganar facilmente por causa da ignorância da nossa Tradição e do desconhecimento das Escrituras, pensamos que a Fé se reduz a um sentimento ou a uma referência teórica a determinados valores universais, e foge-nos o essencial: ter Fé é Obedecer a Jesus Cristo.


Ele diz, a gente faz.
Ele faz, a gente imita.
Ele pede, a gente alegra-se.
Ele gosta, a gente deseja.

A sua paixão foi o Reino de Deus.
Ainda é.
Por outras palavras: que Deus mande!
Que a gente viva como Deus manda!
Manda quem pode. Obedece quem deve.


Foi há pouquinho, apenas três versículos antes, neste evangelho de Lucas, que Jesus desabafou uma das suas queixas mais profundas: "Porque é que vocês me andam sempre a chamar 'Senhor, Senhor', mas não fazem o que eu mando?!"
 

Grande era a Fé daquele homem. Foi isso que Jesus viu. Foi disso que Jesus falou. Foi com isso que Jesus se interessou.


Indje


Rui Santiago cssr - Derrotar Montanhas

domingo, 12 de junho de 2016

"Plano B" - “OLHA-M’ESTA!”

“OLHA-M’ESTA!”

11º Domingo do Tempo Comum
(Lc 7, 36-50)

"Esta cena do evangelho de Lucas mexe comigo há muito. Porque aquela mulher é toda uma teologia, sem dizer uma palavra que se ouça. Escreveu uma teologia inteira, belíssima, com a caligrafia dos seus gestos. O que interessa é arriscar tudo para se pôr ao alcance de Jesus. Entrar em conTacto com ele, tocá-lo, adorá-lo, beijá-lo, deixar-se atrair a ele. Pôr-se aos pés de Jesus, como fazem os discípulos. Ou, como diz o texto do evangelista na exactidão do grego, pôr-se “atrás dos pés de Jesus”. Porque é isto que conta: seguir o trilho, pôr-se atrás, seguir. Tudo é discipulado. Vida dedicada a ele e atraída a ele. Tudo aqui me encanta. Mexe comigo esta cena e esta mulher.
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É a única que não está sentada à mesa! Dá que pensar… A luz desta cena entra pela brecha, pela quebra, pela falta. Uns versos antes, quando o evangelista acaba de contar o que passou lá em Naim, ouvimos dizer que “Deus anda a visitar o Seu Povo!” E agora visita a casa de Simão, o fariseu, assim, com o perfume daquela mulher e rosto de má vida. O lugar da Graça, nesta cena, acontece na vida da única pessoa que não está sentada à mesa.
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O fariseu é todo um “não”. Que pena. O que Jesus tem para lhe dizer, em cheio, é este vazio: “Tu não… tu não… tu não…” Ao contrário daquela mulher. Tanto mal foi perdoado pelo bem que foi feito. É por aqui que Jesus fala. Muito lhe foi perdoado pelo tanto que amou!

Alguém explique aos fariseus, daquele e deste tempo, que não há redenção em não fazer o mal, se não fizermos o bem. “É o amor que cobre a multidão dos pecados”, aparece no capítulo quarto da primeira carta de Pedro, no Novo Testamento, quando se fala em cuidado fraterno e hospitalidade.
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E deixei para o fim o sapo mias difícil de engolir, que é aquilo que Jesus pergunta a Simão: “Vês esta mulher?” O sapo está no ESTA. Porque ele estava lá às voltas com “este tipo de mulher” que, pelos vistos, conhece bem. O tipo. A espécie. Aquela raça de gente. Todas iguais, bem se sabe. O milagre que Jesus propõe é ver ESTA mulher. ESTA pessoa. A pessoa. Passar da fama dessas mulheres à história dESTA mulher, daquele género de mulheres a ESTA mulher concreta.

A pergunta que Jesus faz é um roteiro de conversão: ganhar um novo olhar, capaz de ver para lá do rótulo com que nos defendemos uns dos outros. Vês ESTA mulher?
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Mexe muito comigo tudo isto. Sinto-me tão feliz de cada vez que, através dos evangelhos, ouço dizer por onde Jesus anda e ao que anda! Intuo que posso ir atrás, espreitar, aprender, seguir, imitar. Quem sabe, um dia ainda me converto a ele de vez e me torno de verdade seu discípulo."

Rui Santiago Cssr