A pergunta é estranha. Mas, infelizmente, tem lógica. Pelo menos, a julgar pelos epifenómenos.
Por exemplo, se o Estado taxa ilegalmente com impostos –por vezes, impostos de riqueza- as “Casas dos Pobres”, habitações edificadas a partir das esmolas dos fiéis para servirem de esmola a quem nada pode pagar de renda e nem sequer assegura a sua manutenção, indiretamente, não está a expulsar esses inquilinos ou outros hipotéticos para a condição de sem-abrigo? Incentiva que se façam mais “Casas dos Pobres”?
E se apenas conhece a repressão para impor o seu «pensamento único», no que à segurança social diz respeito, fechando ostensivamente as instituições não-estatais, denota efetiva preocupação com os mais débeis?
Ao dificultar a legalização dos imigrantes, não está a atirá-los para as mãos de vampiro de empregadores que lhes retiram toda e qualquer documentação e os «escondem» para os obrigar a fazer verdadeiro trabalho escravo?
Resultado de tudo isto: como o Estado ignora a promoção e o desenvolvimento integral, replica a pobreza que atinge níveis que deveriam fazer soar as sirenes sociais. Sim, 2.000.000 de pobres em Portugal, quase um quarto da população, é desastre total! O regresso do trabalho escravo é desastre total!
E isto interessa a alguém? O único que, positivamente, lucra com isto é o Estado: as frequentes recolhas de alimentos junto dos supermercados rendem-lhe alguns milhões em IVA e outros impostos.
A celebração deste II Dia Mundial dos Pobres exige que acordemos e abramos os olhos para a realidade. E exige que inquietemos as consciências. Mesmo a do Estado, se se provar que a tem.
Mas exige mais: que os membros da Igreja, mormente os seus «dirigentes», jamais esqueçam o exemplo d’Aquele a Quem testemunhamos, “Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8, 9).
Até porque, por uma feliz coincidência, o Dia Mundial dos Pobres ocorreu no Dia dos Seminários.
IN Diocese do Porto