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O Dia Mundial da Criança assinalado com um texto de Maria Teresa Maia Gonzalez escrito para este dia e para os leitores da Agência ECCLESIA.
Um destes dias, ia sentada no autocarro atrás de uma menina e sua mãe, que tinha ido buscá-la à escola. Como a menina não fazia questão de falar baixo e o autocarro ia silencioso, não pude deixar de ouvir a conversa…
- Mãe, logo contas-me uma história antes de eu dormir?
A mãe não respondeu, mantendo-se virada para a paisagem que via pela janela. Assim, a filha voltou a pedir, desta feita com mais delicadeza:
- Mãe, logo à noite contas-me uma história, por favor?
A jovem mãe da criança deu-lhe, então atenção:
- Ó Ana, tu sabes que eu não tenho cabeça para te contar histórias! Ando estafada, não vês?
- Mas era só uma história pequenina… - tornou a Ana, fazendo uma voz irresistível.
- Tu agora até já sabes ler! – atalhou a mãe.
- Pois, mas não é a mesma coisa – refilou a menina.
- Ora! Quando fores passar um fim de semana a casa do teu pai, pede-lhe a ele que te conte uma história, que ele deve andar mais folgado do que eu – replicou a mãe, já a impacientar-se.
A criança ficou algum tempo calada. Por fim, voltou à carga:
- É que o pai não tem tempo. Ele chega a casa quando eu já estou a dormir…
- Pedes-lhe que te conte a história de manhã – sugeriu a mãe, agora mais sensibilizada.
- Oh… De manhã o pai vai logo para o computador e, além disso tem de ser à noite!
A mãe não entendeu aquela lógica e, desviando novamente o olhar da janela, interessou-se:
- Mas, afinal, tem de ser à noite porquê?
- É que a minha professora disse que, quando ela era pequenina, o pai ou a mãe dela contavam-lhe uma história à noite e que isso a fazia sonhar!
- Ah, já estou a perceber… - disse, então, a mãe da Ana. – Tu queres é sonhar… E queres sonhar com quê, posso saber?
A menina voltou a ficar em silêncio. Depois, respondeu, como se falasse para si
mesma:
- Eu queria sonhar que o pai e tu tinham um bebé… E eu tinha um mano pequenino…
A mãe exasperou-se:
- Mas que coisa! Então tu não sabes que o teu pai escolheu a família dele, Ana?! Não falámos já tantas vezes sobre isso?!
- Sim… - respondeu a menina, em voz mais baixa, encolhendo-se no banco. – Mas o que eu queria saber é porque é que ele não me escolheu a mim…
A conversa terminou ali. Mãe e filha saíram do autocarro poucos minutos depois. Eu fiquei a olhá-las, pela janela, solidária com a perplexidade triste da menina, cuja pergunta (cheia de sentido e legitimidade) não obteve qualquer resposta.
E pensei: hoje, como ontem, ser criança deveria ser sinónimo de… ser feliz! Como seria bom se a Ana e todos os meninos e meninas do mundo não tivessem de pedir «por favor» uma história que lhes desse o direito a serem felizes, ainda que apenas no país dos sonhos!
Um destes dias, ia sentada no autocarro atrás de uma menina e sua mãe, que tinha ido buscá-la à escola. Como a menina não fazia questão de falar baixo e o autocarro ia silencioso, não pude deixar de ouvir a conversa…
- Mãe, logo contas-me uma história antes de eu dormir?
A mãe não respondeu, mantendo-se virada para a paisagem que via pela janela. Assim, a filha voltou a pedir, desta feita com mais delicadeza:
- Mãe, logo à noite contas-me uma história, por favor?
A jovem mãe da criança deu-lhe, então atenção:
- Ó Ana, tu sabes que eu não tenho cabeça para te contar histórias! Ando estafada, não vês?
- Mas era só uma história pequenina… - tornou a Ana, fazendo uma voz irresistível.
- Tu agora até já sabes ler! – atalhou a mãe.
- Pois, mas não é a mesma coisa – refilou a menina.
- Ora! Quando fores passar um fim de semana a casa do teu pai, pede-lhe a ele que te conte uma história, que ele deve andar mais folgado do que eu – replicou a mãe, já a impacientar-se.
A criança ficou algum tempo calada. Por fim, voltou à carga:
- É que o pai não tem tempo. Ele chega a casa quando eu já estou a dormir…
- Pedes-lhe que te conte a história de manhã – sugeriu a mãe, agora mais sensibilizada.
- Oh… De manhã o pai vai logo para o computador e, além disso tem de ser à noite!
A mãe não entendeu aquela lógica e, desviando novamente o olhar da janela, interessou-se:
- Mas, afinal, tem de ser à noite porquê?
- É que a minha professora disse que, quando ela era pequenina, o pai ou a mãe dela contavam-lhe uma história à noite e que isso a fazia sonhar!
- Ah, já estou a perceber… - disse, então, a mãe da Ana. – Tu queres é sonhar… E queres sonhar com quê, posso saber?
A menina voltou a ficar em silêncio. Depois, respondeu, como se falasse para si
mesma:
- Eu queria sonhar que o pai e tu tinham um bebé… E eu tinha um mano pequenino…
A mãe exasperou-se:
- Mas que coisa! Então tu não sabes que o teu pai escolheu a família dele, Ana?! Não falámos já tantas vezes sobre isso?!
- Sim… - respondeu a menina, em voz mais baixa, encolhendo-se no banco. – Mas o que eu queria saber é porque é que ele não me escolheu a mim…
A conversa terminou ali. Mãe e filha saíram do autocarro poucos minutos depois. Eu fiquei a olhá-las, pela janela, solidária com a perplexidade triste da menina, cuja pergunta (cheia de sentido e legitimidade) não obteve qualquer resposta.
E pensei: hoje, como ontem, ser criança deveria ser sinónimo de… ser feliz! Como seria bom se a Ana e todos os meninos e meninas do mundo não tivessem de pedir «por favor» uma história que lhes desse o direito a serem felizes, ainda que apenas no país dos sonhos!
IN:ECCLESIA
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