Este documento completo está publicado DECB
Deixo-vos aqui, apenas uma parte, na expectativa que queiram conhecer mais e aconteça uma reflexão contagiosa que nos leve a "descobrir e reconhecer o «novo» que já está a operar no mundo e despertá-lo através de uma «presença» que lhe vem de Jesus Cristo."
"Algumas pistas para aprofundar
A Catequese actual, como nos disse Enzo Biemmi, no 50º aniversário dos Encontros de responsáveis da catequese, tem necessidade de três conversões. Passamos a citar:
a) Conversão missionária
Vivemos num país onde mais de 80% se consideram católicos e a prática cristã permanece relativamente elevada. As pessoas conhecem o cristianismo e a Igreja, talvez em demasia e mal. Mas não está garantido que a fé tenha tocado coração das pessoas. Aí está o sentido da expressão "toda a acção pastoral deve estar "irradiada" de primeiro anúncio". Por isso propõe chamar a este desafio "segundo anúncio", bem mais complicado que o primeiro, uma vez que se trata do confronto com toda uma série de visões destorcidas, de preconceitos, de resistências. É preciso ajudar a desaprender antes de ajudar a aprender.
b) Conversão iniciática
O Directório Geral da Catequese convida-nos a recuperar a inspiração do processo catecumenal e pôr em prática uma catequese que seja uma “verdadeira escola da fé". Este processo é qualificado pela "intensidade e integridade da formação; pelo seu carácter gradual, com etapas definidas; pela ligação aos ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos e litúrgicos; pela referência constante à comunidade cristã..." (DGC91)). Trata-se de um verdadeiro "banho eclesial" na vida cristã. E qual a razão desta escolha? Muito simples. Num contexto social de cristandade a iniciação na fé dava-se nos ambientes da vida: a família, a escola, a aldeia. Nesse contexto e durante muitos séculos a catequese sofreu duas simplificações, duas reduções: foi reservada às crianças (embora nascida para os adultos) e tornou-se uma "catequese de boa preparação para os sacramentos", tendo sido uma catequese de iniciação à vida cristã. Ora, numa cultura de secularização, de globalização, de comunicação planetária, nem a família, nem a escola, nem a aldeia levam a cabo a iniciação sociológica à fé cristã. O contexto exige então uma conversão missionária da comunidade (primeira conversão) mas para que ela tenha lugar é necessário que a comunidade se torne, ela própria, um lugar iniciático, um meio portador da fé. Daí a segunda conversão da catequese: de uma catequese que prepara para bem receber os sacramentos a uma catequese que inicia na fé "pelos sacramentos" (a mudança é de envergadura!); de uma catequese reservada às crianças para uma que torne o adulto no sujeito e destinatário principal da catequese, mesmo no caso da catequese das crianças.
c) Conversão secular
Trata-se de reaprender a anunciar o Evangelho nas situações de vida das pessoas, nas passagens das suas vidas, em tudo o que as faz viver, sofrer, ter esperança: a experiência de se apaixonar, a paternidade e maternidade, o trabalho e a festa, a paixão pelas causas humanitárias ou sociais, toda a experiência de fragilidade, as rupturas familiares, as separações, os divórcios; os lutos, como a morte de um filho ou do companheiro; a doença, o sofrimento, a solidão; a velhice e a proximidade da morte. Há que anunciar um evangelho do amor, um evangelho da paternidade e da maternidade, um evangelho da paixão e da compaixão, um evangelho da fragilidade afectiva e física, um evangelho da ressurreição no coração de qualquer experiência de morte.
Trata-se de um verdadeiro êxodo para a comunidade cristã: uma passagem da linguagem, da organização e da proposta intra-eclesial a uma linguagem laica, a uma desorganização da nossa pastoral auto-referencial com vista a uma reorganização sobre os tempos e os ritmos da vida humana, a uma proposta da fé que toque as necessidades da vida das pessoas.
Acrescentamos ainda:
e) A conversão comunitária
A importância do grupo como lugar de catequese e das pequenas comunidades.
O grupo é importante do ponto de vista pedagógico: gera-se um processo que facilita a dinâmica educativa que motiva e ajuda a interiorizar os valores; tem pertinência eclesiológica - «Ibi tres, ecclesia est» - pois expressões como comunhão, responsabilidade e presença, tornam-se experiências vividas. Tem ainda pertinência catequética tornando-se referência na educação e maturação da fé, ambiente ideal para interiorizar atitudes. Aprende-se a dizer «creio» com os outros.
As pequenas comunidades podem ser «laboratórios», ecclesiola, onde se partilha fraternalmente, se estimula a criatividade, a busca em comum, facilitam a experiência da comunhão. Com algumas condições: estejam ligadas à comunidade alargada, permanecerem abertas e aceitem questionar-se permanentemente.
A insistência comunitária, exercitada com competência, é um salto qualitativo importante.
Permitirá uma nova compreensão da mensagem cristã e o diálogo fé-cultura.
Necessita de um novo tipo de catequista que seja acompanhante, animador. Trata-se de uma mudança substancial: não pode centrar-se em si mesmo (a sua personalidade, convicções, decisões, «culto da personalidade» …) mas nos outros e na caminhada em conjunto (acolhimento, abertura aos outros, facilita o caminho e o seguimento do Mestre…). Episódio bíblico sugestivo: Act 8 (Diácono Filipe e o eunuco).
Conclusão
Quando lemos o livro dos Actos dos Apóstolos notamos que existe um grupo que se reúne, cerca de 120 pessoas, com os Onze, e algumas mulheres, entre as quais Maria e os irmãos de Jesus (Act 1, 13-15). Reuniam-se nas casas e no templo (2,46). Estas testemunhas apoiam-se em três referências fundamentais: as Escrituras (1,20), o modo de ser e actuar de Jesus Cristo Nazareno (3,6) e uma força (dynamis) que é a força do Espírito Santo (1,8). É assim que a Igreja nasce. Não existe um programa previamente definido. Desenvolve-se ao ritmo dos acontecimentos pessoais e colectivos que vão surgindo, pela capacidade de os interpretar a partir do que lhes foi deixado pelo Ressuscitado e pela actuação consequente. A Igreja («assembleia») vai ganhando corpo e , assistida pelo Espírito Santo cresce como um edifício (9,31). À volta de 5 pilares:
Esta breve referência aos Actos dos Apóstolos ajuda-nos a perceber não apenas que a Igreja do 3º milénio terá necessariamente uma forma cultural específica, mas sobretudo que a igreja está continuamente a nascer e a crescer intrinsecamente ligada aos acontecimentos individuais e colectivos da vida humana. Aliás ela não existe para si mesma. A sua razão de ser é transmitir em nome e à maneira de Cristo a Boa Nova (Evangelho) sempre radical. Não o faz a partir do exterior, mas despertando o que está «adormecido» em toda as buscas de sentido da humanidade. Ou seja, existe um duplo trabalho: descobrir e reconhecer o «novo» que já está a operar no mundo e despertá-lo através de uma «presença» que lhe vem de Jesus Cristo.
A catequese, através duma iniciação cristã autêntica, função maternal da Igreja, há-de suscitar cristãos com esta mentalidade."
Manuel Queirós
A Catequese actual, como nos disse Enzo Biemmi, no 50º aniversário dos Encontros de responsáveis da catequese, tem necessidade de três conversões. Passamos a citar:
a) Conversão missionária
Vivemos num país onde mais de 80% se consideram católicos e a prática cristã permanece relativamente elevada. As pessoas conhecem o cristianismo e a Igreja, talvez em demasia e mal. Mas não está garantido que a fé tenha tocado coração das pessoas. Aí está o sentido da expressão "toda a acção pastoral deve estar "irradiada" de primeiro anúncio". Por isso propõe chamar a este desafio "segundo anúncio", bem mais complicado que o primeiro, uma vez que se trata do confronto com toda uma série de visões destorcidas, de preconceitos, de resistências. É preciso ajudar a desaprender antes de ajudar a aprender.
b) Conversão iniciática
O Directório Geral da Catequese convida-nos a recuperar a inspiração do processo catecumenal e pôr em prática uma catequese que seja uma “verdadeira escola da fé". Este processo é qualificado pela "intensidade e integridade da formação; pelo seu carácter gradual, com etapas definidas; pela ligação aos ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos e litúrgicos; pela referência constante à comunidade cristã..." (DGC91)). Trata-se de um verdadeiro "banho eclesial" na vida cristã. E qual a razão desta escolha? Muito simples. Num contexto social de cristandade a iniciação na fé dava-se nos ambientes da vida: a família, a escola, a aldeia. Nesse contexto e durante muitos séculos a catequese sofreu duas simplificações, duas reduções: foi reservada às crianças (embora nascida para os adultos) e tornou-se uma "catequese de boa preparação para os sacramentos", tendo sido uma catequese de iniciação à vida cristã. Ora, numa cultura de secularização, de globalização, de comunicação planetária, nem a família, nem a escola, nem a aldeia levam a cabo a iniciação sociológica à fé cristã. O contexto exige então uma conversão missionária da comunidade (primeira conversão) mas para que ela tenha lugar é necessário que a comunidade se torne, ela própria, um lugar iniciático, um meio portador da fé. Daí a segunda conversão da catequese: de uma catequese que prepara para bem receber os sacramentos a uma catequese que inicia na fé "pelos sacramentos" (a mudança é de envergadura!); de uma catequese reservada às crianças para uma que torne o adulto no sujeito e destinatário principal da catequese, mesmo no caso da catequese das crianças.
c) Conversão secular
Trata-se de reaprender a anunciar o Evangelho nas situações de vida das pessoas, nas passagens das suas vidas, em tudo o que as faz viver, sofrer, ter esperança: a experiência de se apaixonar, a paternidade e maternidade, o trabalho e a festa, a paixão pelas causas humanitárias ou sociais, toda a experiência de fragilidade, as rupturas familiares, as separações, os divórcios; os lutos, como a morte de um filho ou do companheiro; a doença, o sofrimento, a solidão; a velhice e a proximidade da morte. Há que anunciar um evangelho do amor, um evangelho da paternidade e da maternidade, um evangelho da paixão e da compaixão, um evangelho da fragilidade afectiva e física, um evangelho da ressurreição no coração de qualquer experiência de morte.
Trata-se de um verdadeiro êxodo para a comunidade cristã: uma passagem da linguagem, da organização e da proposta intra-eclesial a uma linguagem laica, a uma desorganização da nossa pastoral auto-referencial com vista a uma reorganização sobre os tempos e os ritmos da vida humana, a uma proposta da fé que toque as necessidades da vida das pessoas.
Acrescentamos ainda:
e) A conversão comunitária
A importância do grupo como lugar de catequese e das pequenas comunidades.
O grupo é importante do ponto de vista pedagógico: gera-se um processo que facilita a dinâmica educativa que motiva e ajuda a interiorizar os valores; tem pertinência eclesiológica - «Ibi tres, ecclesia est» - pois expressões como comunhão, responsabilidade e presença, tornam-se experiências vividas. Tem ainda pertinência catequética tornando-se referência na educação e maturação da fé, ambiente ideal para interiorizar atitudes. Aprende-se a dizer «creio» com os outros.
As pequenas comunidades podem ser «laboratórios», ecclesiola, onde se partilha fraternalmente, se estimula a criatividade, a busca em comum, facilitam a experiência da comunhão. Com algumas condições: estejam ligadas à comunidade alargada, permanecerem abertas e aceitem questionar-se permanentemente.
A insistência comunitária, exercitada com competência, é um salto qualitativo importante.
Permitirá uma nova compreensão da mensagem cristã e o diálogo fé-cultura.
Necessita de um novo tipo de catequista que seja acompanhante, animador. Trata-se de uma mudança substancial: não pode centrar-se em si mesmo (a sua personalidade, convicções, decisões, «culto da personalidade» …) mas nos outros e na caminhada em conjunto (acolhimento, abertura aos outros, facilita o caminho e o seguimento do Mestre…). Episódio bíblico sugestivo: Act 8 (Diácono Filipe e o eunuco).
Conclusão
Quando lemos o livro dos Actos dos Apóstolos notamos que existe um grupo que se reúne, cerca de 120 pessoas, com os Onze, e algumas mulheres, entre as quais Maria e os irmãos de Jesus (Act 1, 13-15). Reuniam-se nas casas e no templo (2,46). Estas testemunhas apoiam-se em três referências fundamentais: as Escrituras (1,20), o modo de ser e actuar de Jesus Cristo Nazareno (3,6) e uma força (dynamis) que é a força do Espírito Santo (1,8). É assim que a Igreja nasce. Não existe um programa previamente definido. Desenvolve-se ao ritmo dos acontecimentos pessoais e colectivos que vão surgindo, pela capacidade de os interpretar a partir do que lhes foi deixado pelo Ressuscitado e pela actuação consequente. A Igreja («assembleia») vai ganhando corpo e , assistida pelo Espírito Santo cresce como um edifício (9,31). À volta de 5 pilares:
Esta breve referência aos Actos dos Apóstolos ajuda-nos a perceber não apenas que a Igreja do 3º milénio terá necessariamente uma forma cultural específica, mas sobretudo que a igreja está continuamente a nascer e a crescer intrinsecamente ligada aos acontecimentos individuais e colectivos da vida humana. Aliás ela não existe para si mesma. A sua razão de ser é transmitir em nome e à maneira de Cristo a Boa Nova (Evangelho) sempre radical. Não o faz a partir do exterior, mas despertando o que está «adormecido» em toda as buscas de sentido da humanidade. Ou seja, existe um duplo trabalho: descobrir e reconhecer o «novo» que já está a operar no mundo e despertá-lo através de uma «presença» que lhe vem de Jesus Cristo.
A catequese, através duma iniciação cristã autêntica, função maternal da Igreja, há-de suscitar cristãos com esta mentalidade."
Manuel Queirós
Sem comentários:
Enviar um comentário