(...)
5. Sim, esta Palavra nova que Jesus faz irromper na nossa vida faz-nos saber que o peso e o medo da morte já passou, afinal, para trás de nós, de tal modo que já não pode ameaçar apagar, mais dia, menos dia, como uma esponja, a vida que vamos construindo com o amor novo que nos vem do Ressuscitado, pois é este amor que nos faz passar da morte para a vida (1 João 3,14).
E mesmo quando o sofrimento cai sobre nós como uma avalanche, transformando a nossa vida num insuportável pesadelo, como sucede com Job, seremos ainda levados a descobrir que não é Deus que nos persegue e fustiga, pois Ele permanece ao nosso lado, dado que é Ele o nosso «familiar mais próximo», que é o nosso «redentor» (goʼel) (Job 19,25), aquele a quem cabe o dever, a obrigação, de velar sempre por nós em todas as situações difíceis da nossa vida.
Os pretensos e falsos amigos de Job tudo fazem para o fazer calar. Vão de argumento em argumento. Só Deus se vem verdadeiramente sentar ao nosso lado, põe a sua mão de Pai sobre o nosso ombro (Job 9,33), carrega sobre si as nossas dores e a nossa morte (Isaías 53,4; Mateus 8,17; Hebreus 2,14-15), limpa os nossos olhos e o terreno todo à nossa frente, dá-nos a mão para a liberdade, libertando-nos também do temor da morte (Hebreus 2,15).
6. Estranha aberração que a Igreja tenha durante tanto tempo pregado a resignação, a aceitação do sofrimento, mas também da injustiça e da desigualdade. Sim, mas a fé na ressurreição é esta força (dýnamis) esta alavanca, que mantém Job de pé, e o leva a recusar até ao fim a resignação, a demissão, a ideia de um Deus que ficaria satisfeito com a injustiça.
7. Faz-nos bem sentar hoje com tempo na página do Evangelho (Mateus 11,25-30). As poucas linhas que a atravessam guardam o segredo mais inteiro de Jesus. Há quem considere estas breves linhas como o mais belo e importante dizer de Jesus nos Evangelhos Sinópticos.
Na verdade, estas linhas leves e ledas como asas guardam o segredo mais inteiro de Jesus, o seu tesouro mais profundo, o tesouro ou a pedra preciosa da parábola (Mateus 13,44-46), preciosa e firme, porque leve e suave como uma almofada, onde Jesus pode reclinar tranquilamente a cabeça (João 1,18), e tranquilamente conduzir, dormindo mansamente à popa, a nossa barca no meio deste mar encapelado (Marcos 4,38).
Nos lábios de Jesus, chama-se «PAI» (Mateus 11,25) este lugar seguro e manso, doce e aprazível, que acolhe os pequeninos, os senta sobre os seus joelhos, lhes conta a sua história mais bela, e lhes afaga o rosto com ternura. Diz bem Santo Agostinho que «o peso de Cristo é tão leve que levanta, como o peso das asas para os passarinhos!».
8. «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos (népioi)» (Mateus 11,25)
IN: Mesa da Palavra
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