sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Nota -Quaresma 2022 - O tempo favorável da escuta - Diocese Porto

 «Eu respondi-te no tempo da graça e socorri-te no dia da salvação” (Is 49, 7). É promessa do próprio Deus que, em cada tempo favorável, não nos faltará com as suas graças, aquelas que sabemos precisar, mas sobretudo as que só o Espírito Santo sabe e pode dar.

Inicia a Quaresma, esse tempo favorável de escuta: escuta atenta da Palavra de Deus que renova, escuta do amor misericordioso de Deus que salva e escuta dos irmãos de caminho que pedem o melhor de nós. São 40 dias favoráveis a um percurso espiritual com consequências concretas e visíveis nas práticas cristãs da oração, do jejum e da esmola.

Porém, esta Quaresma de 2022 é tempo duplamente favorável: decorre em pleno tempo de escuta sinodal na nossa diocese. É uma fase de preparação do Sínodo, rica e envolvente, em que tudo inicia na necessidade de uma escuta renovada de Deus e dos irmãos, que ilumine, incentive e dê esperança no futuro. Um tempo que apela à reciprocidade: escutar e ser escutado. É bom não o esquecer: o Sínodo é um capítulo da história da salvação que Deus opera na Igreja universal. Podemos sonhar juntos uma Igreja diversa: mais gerada que gerida, mais caminho que estacionamento, mais casa do Povo de Deus em saída que clube de praticantes. Escutar a todos faz bem à própria Igreja.

Servem-nos três símbolos expressivos para viver juntos a experiência sinodal em tempo de Quaresma: o deserto, o caminho e a cruz.

 

1. O deserto 

Neste tempo favorável, a Liturgia do 1º domingo da Quaresma propõe-nos o relato das tentações de Jesus no deserto, convidando a olhar o lugar de Deus na própria vida e a qualidade da missão que nos anima. À tentação dos bens, do poder ou de uma missão triunfal, a Palavra ressoa forte: “nem só de pão vive o homem” ou “só a Deus adorarás”! 

O Processo Sinodal é também um processo espiritual. Não é um exercício mecânico de recolha de dados ou uma série de reuniões e debates. A escuta sinodal tem em vista o discernimento que é palavra-chave em todo o processo e a razão de toda a escuta. Num sentido espiritual, o discernimento é a arte de interpretar para onde nos conduzem os desejos do coração, sem nos deixarmos seduzir por aquilo que nos leva aonde não devemos ir. O discernimento envolve reflexão na tomada de decisões nas nossas vidas concretas para procurar encontrar a vontade de Deus.

Então comecemos por nós, entremos no deserto e a “deixemo-nos discernir pelo Espírito de Deus”!  Deserto é sinónimo de isolamento, de silêncio, de possibilidade de escuta de Deus e encontro com a verdade de nós próprios. Hoje há uma tremenda falta de silêncio e, quando não há ruído ou trabalho, muitas pessoas sentem-se incomodadas porque não sabem o que fazer. O deserto lembra esta oportunidade para nos deixarmos penetrar pelo Espírito de Deus, como indivíduos. O discernimento é, então, uma graça a acolher de Deus em relação ao que se é e se vive como discípulos de Jesus. 

Lê mais

Sem comentários: