terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Igreja/Carnaval: Uma história de encontros e desencontros, da máscara às cinzas

Igreja/Carnaval: Uma história de encontros e desencontros, da máscara às cinzas

Lisboa,16 fev 2021 (Ecclesia) – O dia de carnaval, que se celebra esta terça-feira, está ligado ao início do tempo da Quaresma, com as Cinzas, em datas determinadas pela Páscoa.

 A maior festa cristã, que evoca a Ressurreição de Jesus, é celebrada no domingo após a primeira lua cheia que se segue ao equinócio da primavera, no hemisfério norte. 

Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica viria a promover alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma. 
Uma prática penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência.
 
Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espetáculos de caráter cómico.

No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares.
Sobre a origem da palavra carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma.
 A própria designação de entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico. 

A pandemia limita, este ano, várias das comemorações habituais desta época e tem impacto também na Liturgia. 

Os católicos de todo o mundo começam na quarta-feira a viver o tempo da Quaresma, com a celebração das Cinzas, que são impostas sobre a sua cabeça durante a Missa. 
 A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Santa Sé) disposições a serem seguidas pelos celebrantes no rito de imposição das Cinzas, para evitar a propagação da Covid-19. 

 Após abençoar as cinzas e aspergi-las com água benta, o presidente da celebração dirige-se à assembleia, recitando uma das fórmulas do Missa Romano – “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”, “Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar”. 
Esta fórmula não se repete a cada imposição das cinzas nos participantes que se aproximarem do sacerdote, ao contrário do que é habitual. 

A Quarta-feira de Cinzas é, juntamente com a Sexta-feira Santa, um dos únicos dias de jejum e abstinência obrigatórios. 
O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos; a abstinência, por sua vez, consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre.
A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja era a abstenção de carne, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma, mas pode ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, com um caráter penitencial.

Nos primeiros séculos, apenas cumpriam o rito da imposição da cinza os grupos de penitentes ou pecadores que queriam receber a reconciliação no final da Quaresma, na Quinta-feira Santa. 

A partir do século XI, o Papa Urbano II estendeu este rito a todos os cristãos no princípio da Quaresma. 
A Quaresma é um período de 40 dias (não se contabilizam os domingos), marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão. 
 
Na Liturgia, este tempo é marcado por paramentos e vestes roxas, pela omissão do ‘Glória’ e do ‘Aleluia’ na celebração da Missa. 
 OC

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